Capa de Livro: Rico Lins, Joe Sacco… e eu.
Buenas, amigons! Hoje o post não é exatamente sobre ilustração, e sim sobre um curso rápido que fiz há algumas semanas com um profissional incrível: Rico Lins. O workshop de dois dias aconteceu na Oficina da Palavra Casa Mário de Andrade. Para quem se interessar, eu recomendo, já é a segunda vez que participo de uma atividade lá. Além de aprender com profissionais muito bons, você aumenta seu network. É só acessar este site e se inscrever, tudo gratuito.
Antes de falar do projeto, queria registrar minha admiração pelo Rico. Já havia assistido uma palestra dele no Pixel Show 2009 e o cara é realmente muito fera. Pude conferir isso de perto vendo como ele discutiu cada projeto no workshop, sempre com muito interesse e nos forçando a ir sempre além em todas as fases da produção. Se você tiver a oportunidade de aprender com este grande designer, não pense duas vezes.
O workshop “LIVRO: OBJETO GRÁFICO” foi assim: no começo do primeiro dia o Rico propôs uma série de títulos de livro, entre reais e imaginários, para que nós pensássemos o gênero e o autor para 3 deles. Dentre as opções, acabei optando por “A FRONTEIRA”, que num primeiro momento imaginei como um livro de ficção científica do Isaac Asimov. Mas aí então pensei que seria um título perfeito para uma graphic novel do Joe Sacco, um quadrinista que eu gosto muito, famoso por suas narrativas jornalísticas. Este título tinha tudo a ver com seu trabalho relatando zonas de guerra, principalmente no Oriente Médio. E a palavra também evocada vários significados como um limite, uma invasão, a questão do conflito entre a Palestina e Israel… enfim, depois da carta branca do Rico, parti para a parte mais bacana de todo processo que é a criação. Dela, saíram estas 4 páginas de rascunhos:
Tinha muitos caminhos para seguir, mas teve um que se sobressaiu:
Geralmente isso fica bem claro para mim. Não estou dizendo que isso seja genial, até porque penso que esta é uma palavra que deve ser usada com muito cuidado. Mas dá para perceber quando uma ideia é melhor do que as outras. E assim que ela foi escolhida, já no fim do primeiro dia, voltei para casa e fiz um pesquisa para ver como seriam estes dois homens da capa, e cheguei aqui:
E esta pesquisa rendeu estas duas imagens:
A partir delas fiz várias cópias xerox para recortar, pintar e ajustar da melhor forma. Isso, aliás, foi uma das partes mais bacanas da atividade: sujar as mãos. Hoje em dia, pelos prazos curtos e pela praticidade do Photoshop, é cada vez mais difícil colar com cola (desculpa a redundância) ou recortar com tesoura ou estilete. Uma pena, porque quando você tem este contato mais manual, mais orgâncio que digital, pode cometer “erros” que resultam em boas soluções, como aconteceu neste caso. Minha intenção era pintar de vermelho só a área onde as imagens dos dois homens se cruzavam, indicando ali o conflito. Porém ao pintar com um marcador vermelho muito forte a tinta vazou para o verso e manchou a guarda – que é a parte interna da capa. Mas isso só melhorou o resultado, já que a parte de dentro da capa com um fundo vermelho ficou muita mais tensa, confira:
Ok, estava gostando do resultado. A ideia de continuar com os rostos nas orelhas foi do Rico e deu uma força pro projeto. A tipologia parecida com a de jornal também estava ok. Ou seja, como rascunho, tudo muito bacana… até que a minha mão coçou.
Depois de quase dois meses sem parar ilustrando um livro, o workshop do Rico foi como umas mini-férias para mim. E como logo depois tive mais uns dias tranquilos, foi aquilo: com tempo livre você pode fazer vááárias coisas. Eu escolhi continuar mexendo nesse projeto. Principalmente porque tinha uma coisa me incomodando, e muito:
Essa área estava uma verdadeira bagunça visual, e percebi que era por causa do chapéu. De verdade, e se você for judeu me desculpe, não sei a diferença entre alguém que usa kipá e alguém que usa chapéu. Enfim, com um kipá, o resultado ficaria muito melhor. Então, os desenhos mudaram para isso:
Aí, como já tinha desenhos novos, porque não refazer todo rascunho, criando um layout melhor acabado? Baixei a fonte do site DaFont.com e começei todo trabalho digital no Photoshop, o resultado está aqui:
Achei que esta mexida melhorou bastante o resultado final, e você?
Outro detalhe bacana, talvez perceptível somente numa segunda leitura, é que as páginas centrais do livro acabaram formando um “muro” entre os dois homens, o que poderia fazer uma alusão ao vergonhoso Muro da Cisjordânia. Enfim, não vou entrar nesta questão, só deixar minha posição registrada. Bom galera, queria compartilhar esta grande experiência com vocês. Espero que tenham gostado. Continuem visitando e comentando. Rico, muito obrigado! Grande abraço a todos e abaixo os muros, todos eles!
Marcelo Da Silva Franco
14 de julho de 2011 at 11:30Esta inciativa de refazer projetos (tendo-se tempo é claro) é uma valioza mostra de como o ilustrador não é nada sem tesão. Sem aquele desejo de melhorar o que todo mundo elogia e diz que está perfeito. Parabéns pelo objeto de estudo! Belíssima e entusiasmante explicação…agora…pq vc não cola lá no clube estas observações ein, ein, ein?
Marcelo Da Silva Franco
14 de julho de 2011 at 11:31Esta inciativa de refazer projetos (tendo-se tempo é claro) é uma valioza mostra de como o ilustrador não é nada sem tesão. Sem aquele desejo de melhorar o que todo mundo elogia e diz que está perfeito. Parabéns pelo objeto de estudo! Belíssima e entusiasmante explicação! Artistas de plantão colém a retina neste artista que sempre da boas referencias e belos cases a se seguir!
Lucas Loiola
14 de julho de 2011 at 19:03Estou de queixo caído. Adorei todo o processo e o resultado final ficou mais que caprichado! Mostre isso para o Joe Sacco! Com certeza ele vai gostar.
Abraços e meus parabéns!
Altemar
18 de julho de 2011 at 13:58Grande Arraya! Ficou excelente e muito criativo esta sua proposta.
Parabéns!
Altemar
Carla Danielle
19 de julho de 2011 at 02:01Nossa! Ficou ótimo!
É sempre interessante ver todo o processo criativo e de construção!
Parabéns!
Narjara
18 de agosto de 2011 at 14:04Parabéns, grande resultado, Rodrigo!
Narjara